domingo, 14 de agosto de 2011

Um Estudante e o Mar


- Não suporto mais a tua companhia estafante! Bradava um neófito no estudo das artes com uma pilha de livros que permanecera sobre a mesa até este desferir-lhe um tapa, manifestação exterior mais desastrosa da sua impaciência e confusão mental.
A loucura do nosso personagem que vocifera e agride os livros não deve ser entendida pelo leitor como um caso daquelas patologias que anulam a razão de um homem, ao contrário, deve ser vista como produto de uma atividade mental hiperbólica que desatina diante de uma grande quantidade de informações mal compreendidas.
Seu desequilíbrio era perceptível até aos olhos menos preocupados que o fitavam durante a caminhada desnorteada que o levou até a praia. A calmaria bombardeou seus sentidos e, em pouco tempo, o estudante reencontrou a harmonia e o sossêgo mental. Por algum tempo, ele contemplou o mar sem que nenhum pensamento lhe roubasse a atenção.

A paz interior pareceu inspirar-lhe uma analogia assaz salutar. Começou a pensar no relacionamento que os homens travaram com o mar no alvorecer da era moderna. Inicialmente, a ignorância implicava mistificações e medo. Com o passar do tempo, a intimidade e o conhecimento mais apurado levaram os homens a desmistificar o mar e encará-lo intrepidamente, sendo a compreensão o divisor de águas dos comportamentos. A constatação de que assim também deveria ocorrer no seu estudo das artes saltou-lhe à mente. Percebeu que num primeiro estágio reinava a contemplação e a incompreensão, mas que passados tempos de árduo estudo, a compreensão e o entendimento passariam a imperar e, enfim, poderia apreender integralmente seus objetos.
Nesse momento, um movimento impetuoso em meio às águas interrompeu-lhe o raciocínio. Do ponto onde estava não pôde observar bem a ocorrência. Seu primeiro impulso foi trepar por um rochedo à sua esquerda. No entanto, frustou-se na primeira tentativa ao perceber que sua altura não lhe permitiria tal manobra. Ao analisar o obstáculo, depreendeu que a pilha de livros que esbofetara horas antes seria perfeita para levá-lo ao lugar onde poderia ampliar sua visão e compreender o que estava ocorrendo além das tempestuosas ondas.
Por breves instantes, seu cérebro não enviou mensagem alguma para que os membros se movessem, estava totalmente focado em entender tudo o que havia acontecido nas últimas horas. A partir de então, nada mais precisou ser dito ou pensado naquela praia. O estudante retornou ao seu gabinete com ânimo leve, novo e nascentes idéias, a fim de se reorganizar e retomar os estudos.

Clio.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Invocação às musas

Encantadoras as divinas musas !
De toda arte personificadoras
filhas vindas de Zeus onipotente
Juntem-se irmãs a mim neste prado

Vejo surgir Clio inebriante
Dos heróis implacável sedutora
Do Olimpo a louvar vem Polínia
deixando aos deuses exultantes

Irrompe logo após em bela corte
Melpômene Erato e doce Tália
Musas de incomparável pureza

Oh Graça! Lá vem Euterpe e Terpsícore
que juntas ao magnífico Apolo
Fecham o círculo em cerimônia.

Calíope